Enrolou o pé na coberta,
tentou não abrir os olhos - Para de se molhar! Grita a vizinha para o filho de
quatro anos. Então, abriu os olhos sem esperanças de que pudesse voltar para o estado
de sono profundo. Olha para a janela, a réstia de sol combinada com a cortina
lilás gera um contraste insuportavelmente delicado. Talvez, seja melhor trocar
de cortina, uma cor escura combinaria mais com o quarto e com os últimos meses.
Pensa nos afazeres do dia,
lembra-se da coisa menos importante e num movimento brusco toca o chão com as
pontas dos pés. Agora, o dia começou, não há mais o que fazer! A água lhe toca
o rosto, a sensação é boa, parecida com aquela de quando o vento balança o cabelo
e deixa o cheiro de xampu no ar.
Café, não é a sua bebida
preferida, mas a força do hábito a faz consumi-la de maneira instintiva. Passa
as mãos no cabelo várias vezes, como se essa fosse a chave para começar a
trabalhar. No fim, mais um dia de ontem, de antes de ontem e tantos outros ‘’ontens’’.
Uma
música para ajudar o sol a se esconder mais depressa, a mais tocada do momento
não serve, a sua preferência está naquelas que são impopulares, gosta de pensar
que foram feitas para ela. No fundo, sabe que não passa de uma grande bobagem –
‘’Feet don't fail me now. Take me to the finish line. All my heart it breaks
every step that I take’’. Lana Del Rey tem sua presença garantida no
repertório.
A
noite chega, já pode respirar tranquila, é como se se sentisse mais
compreendida neste período do dia. Uma pausa para olhar o céu, as estrelas e
pela milésima vez lembrar que precisa economizar dinheiro para comprar um luneta. Cada vez menos sente o amargo da bebida na boca, mais um copo e se convence
de que é o suficiente. Arrisca um cigarro, a fumaça continua desagradável,
então, desiste.
Na
madrugada ocupa-se assistindo os capítulos das suas séries preferidas. Fecha os
olhos para não ver as cenas de violência, logo em seguida acha graça. Afinal, a
ficção não pode ser pior que a realidade. Um bocejo, uma lembrança. Chris
Martin segue cantando – ‘’Nobody said it was easy’’. Repete mentalmente: não é nada, não é nada, nada. O corpo pesa e se
deixa vencer pelo sono – ‘’No one ever said it would be this hard’’.
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